sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Pediram-me para escrever...

...sobre o dia dos namorados..mas..como nao estava nos meus dias..preferi avançar fases...(texto de 2005..axo eu)


Há muitas coisas que me intrigam...umas mais que outras....mas o k mais me faz confusão...é o que eu chamo de ...Ritual de Domingo à Tarde. Devo dizer que não acontece em todos os países, mas também não estive em muitos para o confirmar. Sei que aqui na nossa quinta, a que muitos dão o nome de País, acontece e não é preciso ir muito longe para o verificar. É um verdadeiro orgasmo social este ritual. E não é qualquer pessoa que pode e consegue inserir-se neste verdadeiro melting pot de cores, classes sociais (embora algumas bem disfarçadas por sotaques mais arrojados ou por autênticos desfiles de moda ). Para nos interiorizarmos nesta reunião social, nada mais fácil do que dirigirmo-nos à praia mais próxima, em dia de Sol, mas de notar, um pequeno friozinho de quem já aguarda pelo rigoroso Inverno, e verificar toda esta situação deveras caricata. Mas para pertencer a este famigerado grupo (que não e tão pequeno como isso) há que ter em atenção certos aspectos que vou passar a referir: é necessário a obtenção da tão falada licença de transporte, vulgo carta de condução. Outro aspecto que não pode faltar é sermos possuidores de um vasto leque de opções familiares o que pode incluir primos ate 132º grau...o que interessa e ser família.. E por fim.. e para mim dos mais preciosos, termos a nosso lado o que muita gente chama de alma gémea. Que se caracteriza normalmente por ser alguém do sexo oposto, a quem estamos dispostos a aturar diariamente e oferecermos prendas de valor duvidoso simplesmente para nos podermos integrar na sociedade domingueira. Faltando talvez alguns aspectos a considerar (tenho boa memoria mas não me lembro de tudo) vou iniciar agora a minha critica, documentário (chamem-lhe o que quiserem) sobre este verdadeiro Carnaval fora de época.

Esta autentica selvajaria urbana começa normalmente dois ou três dias antes do glorioso dia (não, não é o 13 de Maio, mas as vezes parece), surgem os telefonemas a familiares que por motivos pessoais ou profissionais se encontram longe do ninho, combina-se com a alma gémea um fantástico dia de amor e paixão e de toda uma azáfama de sentimentos ternos... e combina-se uma ida a praia!!

Chegando ao dia, é vê-los chegar, alguns pela matina, pois passarão o dia a usufruir de toda uma miscelânea de serviços que nos propõem os vendedores de tudo o que não serve para nada. Ele é balões, bolas de futebol etc., etc., e a minha preferida… a língua da sogra!!! Há também para quem vem pela manhã a oferta de grandes almoçaradas em família, em restaurantes de duvidosa qualidade.
Mas o ex-libris de tudo isto chega com a tarde, onde milhares e milhares (sim , são mesmo muitos) de peregrinos (aqui está a ligação ao dia de Nossa Senhora) se dirigem à beira mar.
Chegam de todos os lados, normalmente do interior, com os carros atulhados de família (ele é primo, irmã, tios, avós e não podendo faltar, 2 ou 3 petizes sempre ansiosos de poder correr livremente por esses passeios fora.

Estes especímenes humanos caracterizam-se pelo factor resistência, pois apesar do Sol brilhar intensamente, está normalmente um frio de rachar ,mas eles não se deixam abater. E tudo para pura e simplesmente pôr a conversa em dia, conversa esta que se baseia não em heranças familiares, mas normalmente é apoiada numa forte exposição em frente a ecrãs de televisão durante toda a semana, e o auge da discussão ocorre quando a avó discorda do genro quando este tem o descaramento de dizer que quem vai sair esta semana da Operaçao Triunfo vai ser o Serginho e não a Catia Vanessa.

Usualmente a distribuição dos agentes ocorre da seguinte forma: os petizes cerca de 40 metros à frente dos progenitores, em correria desenfreada, como se não houvesse amanhã, subindo a tudo o que dê para dar uns saltitos, provocando isto em certas alturas lesões de pouca ou média gravidade. Mais atrás surge normalmente a ala feminina da família, constituída por uma avó, as mães dos petizes, uma tia, solteira ou divorciada, e uma jovem normalmente na idade da puberdade, caracterizando-se esta por estar vestida com as ultimas tendências da moda da escola preparatória que frequenta. Aqui a conversa baseia-se na discussão de ideias culinárias ou na revisao dos episódios das 453 telenovelas que passam diariamente. Logo atras a ala masculina, constituída pelos pais dos petizes (que entretanto rodearam freneticamente um vendedor de balões), um avô (caso não falecido) e por norma um amigo da família, Este posicionamento táctico é aproveitado pelos do sexo masculino para puderem por um olho no decote mais ousado da menina que passa com o namorado sem serem observados pela temível ala feminina. O tema de conversa é, como não podia deixar de ser, o futebol, e sem sombra de duvidas o poder cilíndrico de cada uma das viaturas pertencentes a família. Uma das fortes características destas manadas sociais está nas vestes. As mulheres mais ousadas dão voltas e voltas aos armários para nesta jornada fazerem ver aos demais que a sua luta permanente de sábado a tarde no shopping as compras não foi em vão, e está a ser bem aplicada. Já os machos optam por algo mais discreto e que disfarce a barriguinha. Normalmente a fêmea mete o dedo neste pormenor antes de saírem de casa, “não leves este , leva aquele” etc., etc., etc. Os petizes não têm voto na matéria, vestem mesmo aquilo que lhes mandam, mesmo que isso seja umas calças laranja, uma camisola verde, tudo isto engalfinhado num kispo roxo, acabando numas botas de pele castanha, às quais eles dão o devido tratamento, pontapeando todas as saliências e pedras soltas que encontrem pela frente, o que lhes dá direito a uma sova no final do dia, pois “essa roupa foi muito cara” e “isso não é para estragar que é para levar ao baptizado do Afonsinho”.
Depois de uma grande caminhada, já os petizes se deliciam com o pauzinho dos balões ( sim, porque o balão entretanto voou) e todos sujos do resto de gelado que sobrou, depois de terem dado um bocadinho ao Rottweiller que passeava alegremente com o seu dono, já a ala feminina se queixa de que os sapatos lhe estão a aleijar, ou os homens têm pressa porque hoje até vai dar na televisão o jogo Carcavelinhos – Santa Comba Dão em juniores C, chega assim ao fim mais um fantástico e emocionante Domingo a Tarde, não saindo dali enquanto não se combinar para o fim de semana que virá outra emocionante jornada.

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