somos feitos disto. de pó do caminho tatuado nos joelhos. de angústias gastas que não nos pertencem, de berros alucinados que morrem antes de nascer. de espaços vazios. somos fragmentos de ventos contrários que nunca se encontram. para sempre perdidos, para sempre encontrados. somos feitos disto. de paixões que se (des)gastam em lágrimas que não se choram. somos pedaços de corpos a caminho de pequenos nadas. somos intensos e vazios. somos concentrados mas dispersos. e, no meio de tudo, amamos. com uma irracionalidade suprema que nos devora o ser e nos alonga a sombra.
foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. acho que bati palmas quando entrou a equipa de andebol, vencedora da taça nessa mesma tarde. acho que olhei para o chão o resto do tempo. por natureza, sou de extremos: de mim, duvido sempre; neles, acredito até ao último segundo do último minuto da última hora da última vida. enquanto houver relva para comer. camisola para honrar. acredito sempre. acreditei contra o Paços, quando a derrota pesava num marcador que teimava em não se alterar. antes disso, acreditei contra o Chelsea. enquanto ganhávamos, enquanto empatávamos, enquanto perdíamos. muito antes disso, acreditei contra um AC Milan todo poderoso numa Liga dos Campeões que, na altura, era "outro campeonato". [lembro-me direitinho do alinhamento do resultado: 1-0 para eles, 1-1 para nós, 2-1 para eles, 2-2 para nós, e, ó milagre, Artur e Jardel lá na frente, 3-2 para nós.] podia recuar até onde me lembro de mim e dos onze rapazes de azul e branco atrás de uma bola: acreditei sempre. neles, não em mim. mas – confesso – neste domingo vacilei. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. olhei para o chão e disfarcei como pude as lágrimas que não soube reter, a dor que não soube ocultar. pensei que a vida era assim: lutamos e ganhamos e permanecemos na frente. marcamos um golo e julgamos que a história acaba ali, que o coração pode explodir de uma só vez e os destroços são mesmo parte da festa. e depois vem algo que nos empata a alma. éramos o que tínhamos de ser e de repente já não o somos. éramos tudo e de repente acordamos no sonho errado. e sofre-se, aperta-se as lágrimas contra o peito porque as mãos não seguram mais nada. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. mas eis que eles voltaram. e eu levantei os olhos do chão e o corpo da cadeira. e bati as palmas todas, desde o início da época até àquele momento, bati-as todas, sofri-as todas, berrei por vocês. mesmo vencidos, ainda que saíssem vencidos, tinha valido a pena. ainda que por dentro estivesse um trapo gasto de uma esperança que eu já não reconhecia, ia-vos apoiar até ao fim. é para cair? então vamos lá: caimos juntos.
e vocês responderam. e levantaram-se. se fosse para cair, eu caía convosco. de pé. mas vocês quiseram voar. e levaram-me nos braços. e as lágrimas caíram, mas bem lá de cima. onde só quem se supera consegue chorar.
somos nós,
a Tua Força, a Tua Voz.
tu nunca estarás só,
força Porto, vence por Nós!
até ao fim. ganhar um campeonato, há mais quem o faça. mas sofrê-lo, senti-lo, chorá-lo. um estádio inteirinho a gritar por ti, Baía (o primeiro e o último de todos os campeões). um argentino a atravessar meio campo para abraçar um português. um Pepe a esquecer o sotaque para gritar bem alto "e quem bate palmas é tripeiro!". um Fucile deslumbrado com o carinho dos adeptos a disparar memórias numa câmara fotográfica. um Bosingwa eufórico, a dançar ainda o apito final não tinha acalmado a dor pouco antes tão sentida. um Adriano a mostrar que ficou por nós, para nós. um Lisandro imparável, um Lucho a jogar como há muito não o via. um Bruno Alves, a calar os descrentes com um crescimento inimaginável. um Meireles que demorou a chegar ao varandim – era a barba, a promessa que foi desfazer. um Hélton, companheiro e lutador. um Anderson, a magia na cara de uma criança. um Quaresma, sempre tão capaz do melhor e do pior, sempre tão genial. e um Jesualdo a sorrir. um Jesualdo, finalmente, a sorrir. de ti, que toda a gente duvidou. para ti, este título numa bandeja de espanto! tu, que recebeste uma equipa fragmentada, violentada por um treinador que quis impôr as suas vontades à força de pressões psicológicas e chantagem infantil. eu gostava dele. mas não lhe perdôo ter criado o turbilhão e abandonado o barco para morrer na praia. tal como menino mimado, aterrorizado com a hipótese de falhar. tu, Jesualdo, que pegaste numa equipa que não construíste, assustada e com vícios de forma, e a fizeste Campeã. tu, que nunca tinhas jogado "neste campeonato", e soubeste ser grande. tu que trouxeste para o Porto uma política de sobriedade e sensatez. se jogas de uma forma mais tradicional do que aquela que eu gostaria? sem qualquer dúvida. se cometeste erros? uma porrada deles. mas soubeste erguer a cabeça. e aprendeste (aprendeste tanto desde o início da época até agora...). aguentaste quem te queria roubar o espaço e o mérito e foste de uma dignidade espantosa. se mais ninguém o diz, digo-to eu, arrancado cá das entranhas da alma que te aplaudiram sempre de pé: mereceste este campeonato inteirinho. e quero que fiques para o ano, quero ser Campeã contigo outra vez. e quero a Europa. sim, não tenho medo de o dizer: quero a Europa. e sei que tu consegues. sei que sim.
somos feitos disto. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. fosse como fosse, doesse onde doesse, eu sairia daquele estádio de cabeça erguida. e orgulhosa.
mas obrigada, rapazes. por calarem outras dores e me encherem a face de lágrimas. outras, que não as que isolo do resto do mundo. obrigada. do fundo da minha alma, ainda vos grito: OBRIGADA!
tripeiro eu SOU!
e tenho o Porto no meu Coração,
serás sempre a minha paixão,
eu dou a vida para seres Campeão.
a mim não me interessa onde vás jogar,
seja onde for sabes que eu vou lá estar,
nem a morte nos vai separar,
até no céu por ti eu vou cantar!
se dar a vida é exagero? não sei porquê... penso na quantidade de coisas pelas quais entrego a vida, dia após dia, nesta dança desigual que nem sempre sei dançar. no pouco da minha vida – no nada, às vezes – que ainda me pertence. mas no meio de tudo, amamos. no meio de todas as entregas em que gasto a minha vida, a tua nem será a mais irracional.
[e obrigada a ti. por estares lá, sempre ao meu lado. por protestares comigo, por ficares calado comigo, por festejares comigo. por me dares alento, ainda que em silêncio. por não te importares que eu te entorte os óculos num abraço incontido – erámos Campeões. seja onde for, sabes que nós vamos lá estar. até ao fim. enquanto houver relva para comer. camisola para honrar. eu e tu, sempre.]
foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. acho que bati palmas quando entrou a equipa de andebol, vencedora da taça nessa mesma tarde. acho que olhei para o chão o resto do tempo. por natureza, sou de extremos: de mim, duvido sempre; neles, acredito até ao último segundo do último minuto da última hora da última vida. enquanto houver relva para comer. camisola para honrar. acredito sempre. acreditei contra o Paços, quando a derrota pesava num marcador que teimava em não se alterar. antes disso, acreditei contra o Chelsea. enquanto ganhávamos, enquanto empatávamos, enquanto perdíamos. muito antes disso, acreditei contra um AC Milan todo poderoso numa Liga dos Campeões que, na altura, era "outro campeonato". [lembro-me direitinho do alinhamento do resultado: 1-0 para eles, 1-1 para nós, 2-1 para eles, 2-2 para nós, e, ó milagre, Artur e Jardel lá na frente, 3-2 para nós.] podia recuar até onde me lembro de mim e dos onze rapazes de azul e branco atrás de uma bola: acreditei sempre. neles, não em mim. mas – confesso – neste domingo vacilei. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. olhei para o chão e disfarcei como pude as lágrimas que não soube reter, a dor que não soube ocultar. pensei que a vida era assim: lutamos e ganhamos e permanecemos na frente. marcamos um golo e julgamos que a história acaba ali, que o coração pode explodir de uma só vez e os destroços são mesmo parte da festa. e depois vem algo que nos empata a alma. éramos o que tínhamos de ser e de repente já não o somos. éramos tudo e de repente acordamos no sonho errado. e sofre-se, aperta-se as lágrimas contra o peito porque as mãos não seguram mais nada. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. mas eis que eles voltaram. e eu levantei os olhos do chão e o corpo da cadeira. e bati as palmas todas, desde o início da época até àquele momento, bati-as todas, sofri-as todas, berrei por vocês. mesmo vencidos, ainda que saíssem vencidos, tinha valido a pena. ainda que por dentro estivesse um trapo gasto de uma esperança que eu já não reconhecia, ia-vos apoiar até ao fim. é para cair? então vamos lá: caimos juntos.
e vocês responderam. e levantaram-se. se fosse para cair, eu caía convosco. de pé. mas vocês quiseram voar. e levaram-me nos braços. e as lágrimas caíram, mas bem lá de cima. onde só quem se supera consegue chorar.
somos nós,
a Tua Força, a Tua Voz.
tu nunca estarás só,
força Porto, vence por Nós!
até ao fim. ganhar um campeonato, há mais quem o faça. mas sofrê-lo, senti-lo, chorá-lo. um estádio inteirinho a gritar por ti, Baía (o primeiro e o último de todos os campeões). um argentino a atravessar meio campo para abraçar um português. um Pepe a esquecer o sotaque para gritar bem alto "e quem bate palmas é tripeiro!". um Fucile deslumbrado com o carinho dos adeptos a disparar memórias numa câmara fotográfica. um Bosingwa eufórico, a dançar ainda o apito final não tinha acalmado a dor pouco antes tão sentida. um Adriano a mostrar que ficou por nós, para nós. um Lisandro imparável, um Lucho a jogar como há muito não o via. um Bruno Alves, a calar os descrentes com um crescimento inimaginável. um Meireles que demorou a chegar ao varandim – era a barba, a promessa que foi desfazer. um Hélton, companheiro e lutador. um Anderson, a magia na cara de uma criança. um Quaresma, sempre tão capaz do melhor e do pior, sempre tão genial. e um Jesualdo a sorrir. um Jesualdo, finalmente, a sorrir. de ti, que toda a gente duvidou. para ti, este título numa bandeja de espanto! tu, que recebeste uma equipa fragmentada, violentada por um treinador que quis impôr as suas vontades à força de pressões psicológicas e chantagem infantil. eu gostava dele. mas não lhe perdôo ter criado o turbilhão e abandonado o barco para morrer na praia. tal como menino mimado, aterrorizado com a hipótese de falhar. tu, Jesualdo, que pegaste numa equipa que não construíste, assustada e com vícios de forma, e a fizeste Campeã. tu, que nunca tinhas jogado "neste campeonato", e soubeste ser grande. tu que trouxeste para o Porto uma política de sobriedade e sensatez. se jogas de uma forma mais tradicional do que aquela que eu gostaria? sem qualquer dúvida. se cometeste erros? uma porrada deles. mas soubeste erguer a cabeça. e aprendeste (aprendeste tanto desde o início da época até agora...). aguentaste quem te queria roubar o espaço e o mérito e foste de uma dignidade espantosa. se mais ninguém o diz, digo-to eu, arrancado cá das entranhas da alma que te aplaudiram sempre de pé: mereceste este campeonato inteirinho. e quero que fiques para o ano, quero ser Campeã contigo outra vez. e quero a Europa. sim, não tenho medo de o dizer: quero a Europa. e sei que tu consegues. sei que sim.
somos feitos disto. foram os 15 minutos mais longos da história do Dragão. fosse como fosse, doesse onde doesse, eu sairia daquele estádio de cabeça erguida. e orgulhosa.
mas obrigada, rapazes. por calarem outras dores e me encherem a face de lágrimas. outras, que não as que isolo do resto do mundo. obrigada. do fundo da minha alma, ainda vos grito: OBRIGADA!
tripeiro eu SOU!
e tenho o Porto no meu Coração,
serás sempre a minha paixão,
eu dou a vida para seres Campeão.
a mim não me interessa onde vás jogar,
seja onde for sabes que eu vou lá estar,
nem a morte nos vai separar,
até no céu por ti eu vou cantar!
se dar a vida é exagero? não sei porquê... penso na quantidade de coisas pelas quais entrego a vida, dia após dia, nesta dança desigual que nem sempre sei dançar. no pouco da minha vida – no nada, às vezes – que ainda me pertence. mas no meio de tudo, amamos. no meio de todas as entregas em que gasto a minha vida, a tua nem será a mais irracional.
[e obrigada a ti. por estares lá, sempre ao meu lado. por protestares comigo, por ficares calado comigo, por festejares comigo. por me dares alento, ainda que em silêncio. por não te importares que eu te entorte os óculos num abraço incontido – erámos Campeões. seja onde for, sabes que nós vamos lá estar. até ao fim. enquanto houver relva para comer. camisola para honrar. eu e tu, sempre.]
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